O que acontece dentro de mim? De onde vem esse ódio repentino de querer acabar com tudo, de transformar o carnaval numa eterna noite de cinzas? Afinal, que carnaval é esse que sobrevivemos sem nos questionar para quê?
Por onde estamos mexendo, a quem estamos afetando, em quem estamos pensando na hora em que tudo degringolar de vez? A quem iremos recorrer toda a nossa covardia quando a merda se espalhar deliberadamente pela sala de jantar? E a pergunta que não quer calar: Que merda é essa 01? Afinal, somos apenas números neste emaranhado de situações que sobrepõe o luxo ao indivíduo. Um número que identifica quem sou eu, um número que identifica qual é o meu ideal, um número que identifica a minha cor de pele, um número que identifica minha qualidade de vida… ou seria uma letra que me diz essa parte? Quem sou eu nessa equação que não me diz nada? Sou apenas um coeficiente inapropriado, na busca eterna de não igualar a equação.
Mas o que fazer diante de tanto matemático alterando a fórmula do produto? Serei eu um produto ou apenas mais um consumista incalculável? Consumindo nas margens do sistema, corroendo pelas beiradas do sobreposto, entrando a contragosto neste emaranhado viscoso, porque a marginalidade também é corrompida pelo sistema. Afinal, queremos mesmo estampar um número que não é nosso no peito, e apertar o botão verde da confirmação? Eu não quero confirmar, mas também não quero me isentar. Por onde devo começar? Pra quem devo questionar? Com quem devo gritar, berrar e espernear?
No fundo, o final disso tudo é descobrir quem irá me silenciar. Quem será o contra-regra que irá dizer que o carnaval acabou? Eu só quero que ele me explique quando é que começou, porque dessa festa, não estou convidado a participar.
Resta somente a ressaca do ódio corrompida pela ganância. Desejo de todo coração para que isso não me afete, mas sou apenas parte de um todo estremecido, insolúvel e guarnecido. Levo comigo todo esse ódio proibido. Eu não existo enquanto indivíduo, apenas uma massa de manobra corrompida.
E quero e vou romper com essa regalia. Custe o que custar...
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