quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A ESTRADA CINZA AZULADA.


A crosta impregnada ao seu corpo impedia a naturalidade da questão. De que lhe serviu um ano inteiro pensando em trabalho e dinheiro se os frutos desse frenesi foram o stress e a autoflagelação?

Sentia o cinza da cidade fundindo junto a sua pele, as toxinas da metrópole desprendendo por seus poros, a rotina bufando por entre as narinas. Tudo que sentia dele, confundia-se com o concreto que cercava a sua vida. 

Emancipado no fundo de si, a vontade de fugir se materializava, transbordando num constante estado de agonia. Articulou as ações necessárias desta fuga proibida, um processo complicado: O trânsito congestionado de poréns, o caminho sinuoso sem olhar no retrovisor, as nuvens densas de pensamentos. 

O dia se mostra nebulosamente fechado pra quem pretende sair deste circuito sem reta de chegada. 

O distanciamento movia-se em direção à Serra chuvosa, que não afetava em nada a sua decisão. Ele acelerava com medo de regredir, levado pelo pavor de se entregar ao fracasso.

Pisava fundo pela esperança de liberdade, atravessando os mares de morros que seguravam a conjuntura de toda lamentação.

Avistou no céu o azul-esperança que mudaria o seu destino, lacrimejou com o azul-mudança do mar espelhando seu reflexo e mergulhou com alegria esquecendo-se por completo o azul-bancário que impregnava sua vida.


Um comentário:

  1. Que maravilha de texto! Acho que só os angustiados têm noção do entendimento dessas palavras de maneira tão pura!

    ResponderExcluir