Abriu o Facebook depois de muitos dias e se sentiu deslocado.
Estava distante de todas as pessoas que postavam suas faces naquele livro. Parecia que havia se desconectado delas facilmente e estava somente consigo novamente. Olhou pra vida pessoal de cada uma delas, seus gritos, desesperos, satisfações e desencontros.
Decidiu que a preguiça não o levaria para lugar nenhum. Respondeu timidamente uma conversa qualquer, apenas para pedir algo que era de seu rol de vícios cultivados com desdém.
Depois de dias sem se conectar ao mundo destas pessoas, a única coisa que teve a capacidade de fazer foi pedir pela saciedade de seu vício. Não fora capaz de transmitir nem um feliz ano novo, muito menos um adeus ano velho. Sentia-se velho demais pra tudo isso.
Quase fechou a janela de seu quarto com medo de que o mundo pudesse adentrar pela brisa fresca umedecida por um alagamento qualquer. Estava fechado para balanço, queria balançar-se contra o vento, mas somente contra ele, e mais ninguém.
Recluso, organiza o espaço de seu confinamento, preenche-o com mantimentos, todos os que contemplem seus vícios, sem exceções.
Duvidou se não era o mundo que estava com preguiça de sua pessoa, de suas escolhas desiguais, de suas ações rotineiras, de seu divertimento barato. O mundo não precisa desta mesma pessoa transitando por aí.
Ela já preencheu todos os espaços com seus instintos passivos, já marcou o território da mesmice nos cantos e esquinas, não agüenta mais reproduzir o seu sorriso. Nesta clausura, consome tudo instintivamente: o ar, a brisa, o vento, os vícios, o luxo, o lixo…
Acreditando que quando exaurir-se ao chão, despertará uma nova pessoa, renovada pra enfrentar o mundo e mijar em seus cantos e esquinas.